Esta experiência etnográfica,
estendida para a pesquisa de doutorado, reorienta as
preocupações em torno das sonoridades,
articulando neste caso, o estudo das práticas
cotidianas e formas de sociabilidade com a temática
da duração. O desafio proposto pela tese
é justamente pensar as configurações
de mercado de rua no tempo, como formas de re-atualizar
e reafirmar laços sociais da vida urbana configurados
nas trocas sociais mediadas pela circulação
do alimento, incorporando suas diferentes feições.
Neste caso, as imagens sonoras aqui presentes, não
falam apenas de uma estética urbana, mas evocam,
por seu caráter de fragmento e vestígio,
uma configuração temporal dos gestos de
manipulação da matéria do alimento.
A pesquisa realizada nas feiras e mercados de grandes
cidades, com captação de imagens, bem
como a pesquisa em diversos acervos de imagens sobre
mercados de rua e circulação de alimentos,
incluindo neste caso o próprio acervo de imagens
em vídeo do BIEV, além do acervo de imagens
sonoras elaborado na pesquisa de mestrado, conforma
um conjunto bastante amplo de dados sensíveis,
que passam a ser organizados em coleções,
conforme a homologia de suas formas. Operar com as imagens
através de coleções possibilitou,
desta forma, aderir aos simbolismos que veiculam, tendo
em vista os agrupamentos e as separações,
as recorrências e as diferenças que suas
formas evocavam para falar das formas sensíveis
da vida cotidiana e da memória, nas grandes cidades
contemporâneas.
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Para
o caso desde paper, o foco são as imagens
sonoras e suas potencialidades narrativas em termos
das formas de expressão do cotidiano vivido e
pensado. Ao trabalhar este conjunto de imagens na forma
de coleções, ou seja, unidades semânticas
relacionadas a gestos, a artes de dizer e fazer, a posturas
e a saberes, etc., imediatamente estas imagens passam
a compor o acervo de sons do BIEV, confrontando-se com
outras imagens sonoras. A reunião destas imagens
por unidades semânticas considera o isomorfismo
das formas expressas nas imagens sonoras, a partir do
quê é possível reconhecer a origem
e o pertencimento destas imagens a contextos cósmicos
e sociais, bem como sua filiação às
formas da vida coletiva.
Ao escutar repetidas vezes as sonoridades capturadas
no espaço do mercado, percebendo suas recorrências
e discrepâncias, as formas como, nas vozes de
fregueses e feirantes, na composição de
seus diálogos, nas trocas e brincadeiras, constituíam-se
laços simbólicos entre estes sujeitos,
ao mesmo tempo em que as sonoridades dos detalhes, das
moedas trocadas, dos utensílios utilizados, dos
gestos, atribuíam espessura a estas vozes, ou
seja, enquadravam uma mesma experiência sensível
sobre o urbano é que foi possível compreender
estas imagens sonoras na duração, ou seja,
como parte do estudo da memória coletiva no meio
urbano.
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